O jornalista Fábio Marton conta em Ímpio – O Evangelho de um Ateu sua experiência como jovem pregador e a descoberta do ateísmo.

Fábio Marton não estava realmente interessado em ser um ateu militante, mas sentia que tinha uma história para contar. Não es­­tava errado.

Marton cresceu em uma família evangélica. Neto de pastor, chegou a pregar algumas vezes na igreja do pastor Oséas, que andava armado e prometia fogo do céu, como aquele da história bíblica de Sodoma e Gomorra. Conversava diariamente com Deus, e rogava para que lhe permitisse ter uma infância mais sociável — era um aluno nota dez, mas completamente sem amigos e sem jeito para lidar com as paqueras da escola.

Mudou várias vezes de colégio, de igreja e de casa, até que veio parar em Curitiba, onde estudou no Colégio Estadual do Paraná e cursou Jornalismo na Universidade Federal do Paraná.

Carregando consigo o cansaço de experimentar contradições entre os mandamentos da sua igreja e a dureza de sua vida, a estranha sensação de não pertencer a nenhum dos grupos dos quais fez parte e a vontade de conhecer novas coisas, Fábio Marton foi se descobrindo ateu. E resolveu fazer de sua experiência um livro de memórias. O resultado é Ímpio – O Evangelho de um Ateu, publicado pela editora Leya.

Marton conta, em entrevista por telefone, de São Paulo, que a ideia de escrever partiu de uma ex-namorada sua, que ouvia as histórias e achou que valia um livro: “Meu amigo Leandro Narloch [au­­tor de O Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil] já havia sido publicado pela Leya e ajudou a lançar a ideia para a editora. Eles toparam e a partir daí fiz o Ímpio”.

Hoje, o escritor reside em São Paulo e é colaborador da Editora Abril. Escreve para as revistas Su­­perinteressante, Aventuras na História e Guia do Estudante, entre outras. Ele diz que o jornalista curioso por novas descobertas que é hoje não foi estimulado por sua família: “Meu pai tirou de mim a minha primeira edição da Superinteressante, quando eu ti­­nha 8 anos. Não queria que eu a­­­prendesse sobre evolução. Eu en­­tendo que, para muitas pessoas, ter um lado espiritual é importante, mas a minha vida só começou a tomar uma direção depois que me tornei ateu”.

Apesar de concordar que sua elucidação sobre o ateísmo tenha a ver com sua inadequação à própria família e aos amigos, Marton afirma que a experiência foi fruto de uma longa reflexão e de uma autopercepção que desenvolveu ao longo da vida. “As ideias foram indo numa direção, e a isso se soma a panela de pressão dos meus sentimentos. Mas eu não virei ateu simplesmente por estar insatisfeito com a minha vida.”, conta, e completa: “Eu não poderia ser ateu aos 14 anos, por exemplo. Mesmo que estivesse insatisfeito, não tinha amadurecido as minhas ideias o suficiente. Não existe um ateísmo natural”.A família do autor ainda reside em Curitiba e continua religiosa. Eles não aprovam sua posição religiosa. “Hoje não estou mais brigado com minha família, mas sou um pouco distante porque nunca tenho muito assunto com eles. Aliás, eles não sabem que eu escrevi esse livro. Vão descobrir com essa matéria”, brinca.

Fonte: Gazeta do Povo