Às vezes penso que ao adentrarmos a eternidade, teremos acesso aos nossos arquivos existenciais. Poderemos até assistir in loco a cada episódio de nossa jornada, porém, sem poder interferir em nada. Acho que há lições preciosas que nos foram ministradas durantes tais episódios, que não foram apreendidas completamente. Teremos que fazer uma espécie de revisão. Talvez tenhamos aprendido apenas o superficial, conquanto haja camadas mais profundas que careçam de ser investigadas.

Também acredito que aferiremos o alcance e a repercussão que nossas obras tiveram, bem como tomaremos conhecimento de vidas que foram afetadas direta ou indiretamente por elas. Não ouso dogmatizar sobre isso. Trata-se apenas daquilo que chamo de “ficção teológica”.

Porém, há passagens bíblicas que parecem indicar tal possibilidade. Apocalipse diz que bem-aventurados são os que agora dormem no Senhor, pois suas obras os acompanharão. Portanto, em nossa viagem rumo à glória final, carregamos uma bagagem existencial. A cada escala desta viagem, acrescentamos novos ítens à nossa bagagem. Quando lá chegarmos, abriremos a mala e verificaremos ítem por ítem. Roupas amarrotadas terão que ser passadas e colocadas no cabide. O que estiver no fundo da mala, e que já até houvermos esquecido, será trago à tona, porém, já não nos trará qualquer tristeza, porque nos será revelado o propósito por trás dos fatos.

Comparando a um filme: a hora de partirmos deste mundo, será o momento em que a fita será rebobinada. Na glória poderemos assisti-la, sem cortes, sem censura, sem edições posteriores, versão do supremo Diretor. Assistiremos, por assim dizer, aomaking of de nossa vida terrena. Descobriremos, entre outras coisas, quantas vezes recebemos livramentos, sem que houvéssemos dado conta deles. Saberemos, finalmente, onde, quando e como todas as coisas cooperaram em conjunto para o nosso bem, e para a glória d’Aquele que nos amou.

Assim como atualmente, muitos filmes estão sendo relançados numa versão 3D, veremos nossa vida numa versão amplificada, envolvendo todas as dimensões da existência, bem como suas interações e implicações.

Não creio que nos esqueceremos dos fatos em si, mas das dores que eles provocaram. Deus não precisa queimar arquivos, simplesmente, porque hão há o que esconder. Tudo, finalmente, fará sentido.

Fonte: Hermes Fernandes