SHIVA E OS FRUTOS DA MESMA ÁRVORE

Na vaidade de se crerem iluminados e muito mais inteligentes que o comum dos mortais, os luciferianos não hesitam em escarnecer dos cristãos. Portanto, quase sempre existe uma pontada de deboche dissimulado nos métodos e no simbolismo utilizado para afrontar a Igreja de Cristo.

Shiva tem muitas características que o tornam comparável à idéia do diabo cristão e acho que não é a toa que tanto se esforcem para difundi-lo como divindade. Ele é reputado como o criador do Yoga que é uma das práticas mais reverenciadas pelos movimentos da "Nova Era". Para muitos entusiastas, o Yoga acaba conduzindo ao universo politeísta das tradições indianas e ao afastamento da religião cristã. Isso ocorre de forma muito sutil, no pressuposto de ser uma filosofia ecumênica e dentro da proposta de um maior aprimoramento mental e espiritual para os praticantes. Mas, gradativamente, os envolvidos são estimulados a montar altares, entoar mantras que substituem as orações e a invocar Shiva, entre outros deuses pagãos, ao invés de dedicar seus louvores ao Deus Pai Criador ou ao Nosso Senhor Jesus Cristo.


É fácil perceber a ironia de invocar Shiva quando damos por conta do quanto ele lembra o diabo cristão em diversos aspectos. Assim como Satã, Shiva também representa a promessa do conhecimento supremo. Para destruir a "ignorância", sua principal arma é o Trishula ou tridente. Independentemente de ser julgado como obra do imaginário popular ou uma perversão de origem católica para denegrir antigas deidades (como Netuno), o fato é que o tridente está associado ao diabo, fazendo do Trishula não menos do que uma alusão satírica. Shiva não tem chifres, mas tem um crescente lunar sobre a cabeça que lhe é equivalente. Víboras cingem a sua cintura ou adornam o seu pescoço e creio que nem seria preciso lembrar que elas remetem ao instigador bíblico do pecado original.

A naja é uma das serpentes mais venenosas do mundo. Simboliza tanto o domínio de Shiva sobre a morte quanto uma suposta energia chamada Kundalini que intentariam fazer subir pela coluna vertebral através de práticas sexuais, principalmente, dentro de uma modalidade de Yôga denominada tantrismo. Assim como Baphomet, Shiva tem no órgão sexual masculino um de seus principais símbolos e sob a promessa de avanço espiritual, muitos se entregam à lascívia, confundindo liberdade com libertinagem.

A trindade hindu é composta pelo Criador (Brahma), o Mantenedor (Vishnu) e o Destruidor (Shiva). Chamá-los de demônios dentro de sua concepção religiosa original não faz o menor sentido, nem seria adequado. Realmente, é preciso muito cuidado com a tendência de "demonizar" as divindades de outras religiões. Algo totalmente diferente, entretanto, é correlacionar a Trimurti indiana com o satanismo, baseado em evidências de movimentos satânicos ou luciferianos (como queiram chamar) que tentam disfarçar e legitimar seus rituais usando elementos do hinduísmo.

Shiva não é o Mal conforme o concebemos pela mentalidade cristã. No máximo, poderíamos compará-lo a uma espécie de "Mal necessário" ou parte do plano divino, na cosmogênese indiana. Entretanto, dentro da trindade hindu, Shiva é aquele que mais se aproxima do arquétipo demoníaco. Portanto, é ardilosamente natural que os satanistas que não queiram se referir a Satã ou Lúcifer de forma direta; façam uma menção indireta ao seu senhor através do nome de Shiva. Agindo assim, eles podem acusar de ignorância qualquer um que tente estabelecer um paralelo entre os seus ritos e o satanismo.

Como precedente dessa premissa, Albert Pike classifica Shiva no mesmo nível de entidades de outras tradições que se equiparam a Satã como princípios do Mal. Selecionei um trecho extraído da página 277 de "Morals & Dogmas", vejam:


"Toda a antiguidade resolveu o enigma da existência do Mal supondo a existência de um Princípio do Mal, de demônios, Anjos caídos, um Arimã, um Tifão, um Shiva, um Loke ou um Satã que, primeiro caindo e afundando na miséria e na escuridão, tentaram o homem para sua própria queda e trouxeram pecado para o mundo."

"All antiquity solved the enigma of the existence of Evil, by supposing the existence of a Principle of Evil, of Demons, fallen Angels, an Ahriman, a Typhon, a Siva, a Lok, or a Satan, that, first falling themselves, and plunged in misery and darkness, tempted man to his fall, and brought sin into the world. "


Para aqueles que não saibam o papel fundamental de Albert Pike e de sua obra para que a Maçonaria se tornasse a instituição que hoje conhecemos, sugiro que pesquisem, pois a narrativa iria muito além do escopo deste artigo e vale a pena estudar sobre o assunto.

Os maçons se dizem pedreiros livres ou construtores, enquanto Shiva é descrito como o Grande Destruidor. Algo que, do ponto de vista maçônico, faz dele uma figura interessantíssima. Seu elemento é o fogo; o agente transformador por natureza e, supostamente, usado para destruir o que se julga ultrapassado, dando lugar ao que se crê renovador. Penso que a maioria dos leitores haverá de concordar que aquilo que vemos em nossos tempos é justamente a destruição de todos os costumes, padrões de moralidade e religião visando instaurar um modelo unificado para o mundo.

Portanto, os maçons se dizem construtores e de fato o são, mas não revelam que pretendem construir sua "Grande Obra", principalmente, sobre os escombros da Igreja de Cristo; além de todas as outras religiões tradicionais que trabalham para reunir numa única crença...

É importante notar que em seu contexto original, dentro da tradição hindu, Shiva e seus associados são tidos como destruidores do Mal. Por outro lado, também é importante notar que, no universo maçônico/teosófico, Lúcifer ou Satã representa o "Bem", sendo considerado o portador da "luz do conhecimento" para a humanidade. Em contrapartida, o Deus do Paraíso cristão teria sido aquele que tentou aprisionar o homem no "jardim da ignorância", sendo, portanto, associado ao Mal. Dito isso, podemos considerar uma inversão de valores onde é possível chamar o Bem de "Mal" e o Mal de "Bem".

De tal forma, digo que é por tomar um pelo outro e não por sua concepção filosófica ou religiosa intrínseca que tenham convertido Shiva numa representação do Princípio Demoníaco que, dissimuladamente, oferece libertação, riquezas, conhecimento ou progresso espiritual, mas corrompe a sociedade e destrói tudo o que nela há de bom.

Isso está de acordo com a nem tão enigmática expressão do 33º. Grau maçônico: "Ordo ab Chao" (Ordem vinda do Caos).

A Nova Ordem Mundial virá do caos! Mais precisamente, irá emergir quando todos os valores cristãos que um dia permearam a sociedade, nada mais forem do que ruínas e pó...

Não obstante, é preciso reconhecer o belo serviço de ajuda humanitária prestado, principalmente, por aqueles que se encontram no círculo exterior da maçonaria, pois, conforme se lê nas obras de Albert Pike, na Ordem existem círculos internos cujos propósitos não são conhecidos pelos que habitam nos círculos externos.

A propaganda maçônica fala em admitir homens bons para torná-los melhores. Nesse sentido, a letra "G" (usada no logo maçônico) é aquela que melhor representa o formato e a postura fetal, sendo que o compasso e o esquadro que a envolvem são sugestivos quanto ao projeto de gerar um novo homem; superior e até divino, como alguns gostam de comparar.

Tais idéias parecem muito nobres, dignas, louváveis e até inofensivas desde que não atentemos para o fato de que também estiveram por trás dos objetivos do Terceiro Reich...

No decorrer dos últimos séculos, membros proeminentes da Maçonaria estiveram à frente na criação de novas ordens e movimentos esotéricos. Por certo, haverá quem diga que eles eram livres pensadores e, necessariamente, não representavam os propósitos e interesses oficiais da Maçonaria. Mas será mesmo assim? De fato, é possível concordar que não representassem a conduta oficial, mas e quanto à oficiosa?

Entre os grandes grupos empresariais é comum investirem numa nova companhia ou marca secundária para coexistir ao lado da principal e alcançar outras faixas de consumidores. Além de propiciar uma maior liberdade para a aplicação de conceitos e preços diferenciados; caso algo dê errado, não se contamina a credibilidade de um produto bem sucedido com o eventual malogro do empreendimento recém criado. Tenho a impressão de que a Maçonaria utiliza essa mesma estratégia de marketing há séculos.

Existiriam realmente várias ordens ou apenas uma? Frutos diferentes ou apenas enxertias de uma mesma árvore? Façamos um apanhado geral:

  • O co-fundador da Sociedade Teosófica, Coronel Henry Steel Olcott, era maçom. Paralelamente, a própria Helena Blavatsky estaria entre o seleto número de mulheres que percorreu a senda maçônica; 

  • Charles W. Leadbeater foi outro líder teosófico de grau 33 na Maçonaria que, ao lado de Annie Besant, viu em Krishnamurti o veículo para a manifestação de Maytreia, o avatar da "Nova Era"; Rudolf Steiner, grau 33 da Maçonaria, fundou a Sociedade Antroposófica após romper com a Sociedade Teosófica;

  • Edward Bulwer-Lytton era maçom e foi o autor de "Zanoni" e de "The Coming Race" (A Raça Futura), obra que teria dado origem a teoria do Vril (um tipo de energia sem precedentes dominada por uma super-raça chamada Vril-ya que habitaria o centro da Terra);

  • O fundador da Ordem de Thule (de íntimas ligações com a Sociedade do Vril, de Karl Haushofer) foi o maçom Rudolf von Sebottendorff;

  • Tanto a Thule quanto a Vril arrebataram alguns dos mais importantes membros da elite nazista, inclusive Adolf Hitler. Diga-se de passagem, as idéias de superioridade racial estão alinhadas com o conteúdo de "A Doutrina Secreta", escrita por Blavastsky;

  • Os fundadores da Golden Dawn, Coronel William Wynn Westcott e William Robert Woodman, eram maçons e essa sociedade foi bastante influente na Alemanha nazista, tanto quanto para o crescimento do ocultismo como um todo;

  • A fundação da "OTO - Ordo Templi Orientis" está ligada aos maçons Karl Kellner (1851-1905) e Theodor Reuss (1855-1923), mesmo sendo dito que Kellner não teria ultrapassado o grau de aprendiz e Reuss, apesar de ter atingido o grau 3 (mestre maçom), tenha um histórico conturbado que inclui sua expulsão da Loja Simbólica que freqüentava, além da ostentação de vários títulos que seriam fictícios. Kellner era profundamente interessado pelo Yoga e é reconhecido como um dos primeiros ocidentais a atingir certo domínio sobre suas técnicas. Não por acaso, a chamada "magia sexual" (que remete ao tantrismo) era praticada na OTO;

  • Aleister Crowley, maçom de grau 33º, foi iniciado na Golden Dawn, onde teve rápida ascensão. Tornou-se dirigente da OTO, co-fundador da Astrum Argentum e inspirador de outras ordens baseadas na "Lei de Thelema";

  • Dois membros da OTO tiveram papel de destaque no movimento rosacruz moderno: Arnold Krumm-Heller com a "FRA - Fraternitas Rosicruciana Antiqua" e Harvey Spencer Lewis que constituiu a "Antiga e Mística Ordem Rosacruz – AMORC
  • Max Heindel se engajou na Teosofia através das palestras de Leadbeater, teve contato com a Antroposofia de Steiner, mas, sob influência de uma entidade espiritual identificada como "Irmão Maior da Ordem Rosacruz", iniciou sua própria fraternidade;

  • Do ramo rosacruz de Krumm-Heller, sob influência de Eliphas Levi, Steiner e Max Heindel, brota o controvertido colombiano Vitor Manuel Gomez Rodrigues, mais conhecido como Samael Aum Weor, fundador da "Igreja Gnóstica Cristã Universal" e da "AGEACAC - Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos Culturais Arte e Ciência".

Em nosso país, a "Sociedade Brasileira de Teosofia", fundada por Henrique Jose de Souza em 1928 e, após a sua morte, rebatizada como "SBE - Sociedade Brasileira de Eubiose" é o equivalente nacionalizado da "Sociedade Teosófica". A Eubiose promove os mesmos princípios teosóficos, com a diferença peculiar de ensinar que o Brasil é o berço da "Nova Era de Aquário" e o messias que irá substituir Jesus no novo ciclo de evolução da humanidade nasceu no país, em 24 de Fevereiro de 1949. Sua manifestação mundial era esperada em Setembro de 2005 e o não cumprimento dessa expectativa não significa o fracasso da SBE, mas, no máximo, um esgotamento dos seus objetivos. Afinal, na suposição da urgência de estarem devidamente preparados para a manifestação do sucessor de Cristo, muitos mergulharam intensamente nas práticas ocultistas e na propagação de seus preceitos.

Assim como na "Sociedade Teosófica", além de estudos ligados ao budismo esotérico, as técnicas eubiotas para a expansão da consciência provêm de exercícios de Yoga: respiração, mantras, visualizações, mentalizações e posturas corporais. Somam-se a elas, a devotada crença em mestres invisíveis que zelam pela evolução da humanidade, dentro de uma "Grande Fraternidade Branca". Henrique Jose de Souza é também reputado como mentor e patrono de lojas maçônicas.

Mesmo pertencente a uma categoria distinta, pois seus ensinamentos estão à livre disposição do grande público, não poderia deixar de mencionar o maçom Hippolyte Léon Denizard Rivail ou Allan Kardec. Ele codificou a doutrina espírita no mesmo período de grande efervescência ocultista representado pela passagem de meados do século XIX para o século XX. A comunicação com os mortos é biblicamente condenável, abrindo portas para o assédio de entidades enganadoras que, se aproveitando da boa fé e sofrimento humano, se fazem passar por entes queridos, adotam a identidade de personalidades famosas ou intentam exercer o papel de orientadores espirituais. O próprio Kardec reconhecia essas incertezas; não obstante, o espiritismo se tornou a versão para as massas de modelos esotéricos baseados em guias espirituais e num processo de evolução da alma que se dá através do aprendizado entre inúmeras encarnações.


Voltando ao foco central, examinemos Gérard Anaclet Vincent Encausse (1865 – 1916), mais conhecido como Papus. Médico, ocultista, rosacruz e, apenas para não variar, maçom! Para o nosso propósito que é o de estabelecer conexões entre as assim chamadas "escolas de mistérios" e sistemas místicos orientais como o Yoga, importa lembrar aquele que talvez tenha sido o feito mais relevante da vida de Papus: a fundação da "TOM – Tradicional Ordem Martinista", atualmente, integrada à AMORC. Em 1907, o português Antonio Olívio Rodrigues (conhecido como AOR) é iniciado na Loja Martinista "Amor e Verdade", situada na cidade de São Paulo. Dois anos mais tarde, criando uma importante derivação, AOR funda o "Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento" que foi o grande divulgador do ocultismo no Brasil. Através de palestras, cursos, reuniões e publicações de uma editora própria, a "Pensamento" (hoje, Pensamento-Cultrix), AOR trouxe para o nosso país as obras de Eliphas Levi e Papus, entre outros. Igualmente, em 1980, é a Editora Pensamento que lança, no Brasil, a primeira versão integral de "A Doutrina Secreta", de Helena P. Blavatsky.

A Ordem Martinista de Papus tem uma relação direta com a divulgação do Yoga em nossa pátria. Reconhecido como o seu grande introdutor no Brasil, o francês Leo Alvarez Costet de Mascheville ou Sevananda também foi presidente da Ordem em 1936. De fato, a família de Leo é fundamental para a implantação do Martinismo em toda a América do Sul, sendo seu pai nomeado "Delegado Especial do Supremo Conselho da Ordem Martinista" por Papus, em 1895. Portanto, os laços entre as chamadas escolas de mistérios contemporâneas e o misticismo oriental no qual o Yoga se enquadra, podem ser encontrados por quem os procure. Todavia, para torná-lo atraente para os que se recusem a aceitar uma roupagem mística ou para evitar conflitos com diferentes concepções religiosas, existe quem tente desvinculá-lo de suas conotações espiritualistas.

Eu convido o leitor a aprofundar tal pesquisa por conta própria, verificando a intricada rede de conexões no surgimento de diversos movimentos esotéricos, aparentemente desligados ou independentes entre si. Digo isso porque é comum que esses "mestres" ou seus conceitos se respaldem uns pelos outros. Mas, conforme se pode constatar, tal cumplicidade, antes de significar a confirmação de alguma incorruptível verdade eterna, indica brotamentos de uma mesma raiz ou pensamentos dos que beberam de uma mesma fonte. Ou seja: ecos e mais ecos de um mesmo sistema!

Também acho fascinante notar que entre as figuras ilustres dos meios esotéricos, muitos deles possuíam patentes militares, conforme citei nos exemplos estrangeiros. No Brasil, entre os maiores expoentes do Yoga, temos o General Caio Miranda e o Coronel Hermógenes, ambos teósofos. Seria coincidência ou uma clara indicação de estarmos diante da maior batalha travada sobre a face da terra através dos tempos, cujo prêmio não é o ouro ou qualquer outra riqueza de cunho material, mas a tão cobiçada quanto preciosa alma humana?

Fonte: Spirit Online